Ele vinha cambaleando
como se o sangue fosse de mentira e a guerra uma brincadeira.
Na sua mente insana
era exatamente isso. A batalha enlouquece as mentes fracas.
Com um sorriso
nervoso e um olhar arregalado ele caminhava tropeçando nos corpos,
Como uma criança que
quer mostrar pra mãe a arte inocente que fez.
Um zumbi com um fio
de esperança de voltar à pátria amada.
Ao fundo explosões,
tiros e gritos. Enquanto caminhava sem medo pelo campo minado,
Arrastava pelo braço
seu amigo que morrera, como se este fosse um brinquedo que não queria largar. Na
perna esquerda coberta de sangue a farda, fruto de um corte que sofrera,
mancava sem perceber. Pouco notava a presença dos inimigos, isso não importava mais,
Em seus delírios
cantava o hino como se fosse uma canção de ninar
Para o amigo que
arrastava. O calor estava se tornando insuportável
E o cheiro da morte
começava a dominar o ar. Ninguém mais sabia o que era silencio, quando não as
bombas eram os gritos que ecoavam em seus ouvidos. Em certos momentos, saía do
transe e percebia que estava em guerra, mas logo voltava ao seu delírio
confortador. O sol fritava seus neurônios e morria no seu coração a alegria, triste
era andar e nunca chegar à miragem que vislumbrava. Flashs de suas melhores
lembranças surgiam em meio ao cenário de corpos ao chão. Logo à frente a vala
chegava, a cova larga onde jaziam os heróis dessa guerra, na beira ele caiu com
a ausência de chão para o próximo passo carregou consigo o corpo do amigo e
caiu por cima dos corpos dos heróis, alguns definhavam ainda vivos... Com muito
esforço virou-se e olhou para o céu a luz rasgava sua retina e seu corpo estava
cansado da luta. Acima de seus olhos pairava sua miragem: suas filhas dançando
em ciranda. Cantavam sem parar.
O penoso soldado
estica seu braço tentando tocar a doce miragem enquanto a sinfonia da guerra
retumbava, fazendo-lhe perceber que morreria, o peito ofegante da luta a mente
cansada dos delírios. O pobre soldado sorriu, vê-las era seu último desejo,
mesmo de forma insana realizado. Descansa no peito seu braço direito e entrega
suas últimas forças a guerra, seu sangue a pátria e seu corpo ao chão. E aqui
morre nosso soldado, insano, mas honrado, sozinho e infeliz. Contando os dias
para voltar pra casa.
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